O Meio e o Si

Seu blog de variedades, do trivial ao existencial.

Jogo bonito?

neymar

Apaixonado por futebol, quero expressar minha preocupação com as perspectivas do Brasil na Copa do Mundo, assim como o futuro do futebol brasileiro. Embora acredite que seguiremos sendo durante um bom tempo o principal celeiro mundial de jogadores talentosos, caso mudanças fundamentais não ocorram, o futuro não me parece promissor. Vamos às principais questões.

Primeiro, chegou a hora de darmos o braço a torcer e adotarmos o calendário europeu. Não vamos nos enganar: enquanto estivermos perdendo os melhores jogadores para times do hemisfério norte (tendência que não se reverterá tão cedo) temos que equiparar os calendários de modo que as equipes não sejam desfeitas no meio de nossos principais campeonatos. O desmanche precoce de um time, além de ser falta de respeito com o torcedor (principalmente os que compraram a camisa do seu ídolo ou ingressos/TV a cabo antecipados esperando ver certos craques), não contribui para que nossos melhores jogadores se entrosem. Com o novo calendário, aumentariam as chances de as equipes manterem os mesmos times no mínimo durante um ano inteiro. Se for uma questão de ego, lembro que até os argentinos já adaptaram seu calendário.

Outra questão fundamental é aumentar o profissionalismo na gestão do futebol brasileiro, transformando times em clubes-empresa. A era romântica acabou. Quando Zico foi campeão do mundo pelo Flamengo, em 1981, não ganhava mais que um gerente de uma boa empresa e dirigia um Chevette. Hoje craques ganham milhões e para que clubes consigam gerar e manter bons jogadores, a tendência é que precisem operar como empresas, respondendo a acionistas e adotando governança séria. Futebol pode ser um ótimo investimento para patrocinadores e fundos e esses investimentos, conseqüentemente, tornam-se ótimo negócio para jogadores e torcedores. Naturalmente, a CBF também precisa de um choque de gestão e ética, mas renuncio opinar nessa esfera pois os reais entraves “políticos” para tal choque fogem ao meu conhecimento.

A terceira questão é a necessidade da melhor formação de base de jogadores. Por “formação”, refiro-me ao sentido mais amplo do termo, não apenas a qualidade técnica e física dos atletas. Precisamos formar também de maneira sistemática jogadores psicologicamente bem preparados, com atitude e ética profissionais. Os bad boys, figuras também romantizadas no futebol, estão tornando-se cada vez mais raros pois a tolerância diminuiu e a exigência do esporte aumentou. Por exemplo, o uruguaio Suarez do Liverpool recebeu dez jogos de suspensão por indisciplina e pode nem voltar a jogar na Inglaterra. Os melhores jogadores hoje são também grandes atletas, equilibrados, ou ao menos bem assessorados. Messi é um exemplo.

Finalmente, precisamos de mais técnicos. A forma incestuosa com a qual meia dúzia de treinadores revezam-se por todos os principais clubes do país é prejudicial ao zeitgeist de nosso futebol. É importante promover a formação de mais técnicos, quem sabe através de melhores cursos profissionalizantes, inclusive para que mais ex-jogadores se aprimorem e exerçam a profissão com sucesso. Ademais, poderíamos buscar treinadores estrangeiros, aprendendo com a experiência tática e disciplinar de outros países. Também sou a favor de algum tipo de regulação que limite ao menos um pouco a dança de técnicos. Por que não? Afinal todo mercado é regulado de uma forma ou outra. Quem sabe uma quarentena de 12 meses para dirigir um time do mesmo estado ou voltar ao mesmo clube? Assim treinadores pensariam duas vezes antes de assinar um contrato oportunista, já com planos de sair seis meses depois. A permanência durante várias temporadas, dentro de um projeto de longo prazo, traz tranqüilidade, padrão de jogo e credibilidade aos clubes. Manchester United e Arsenal são bons exemplos.

Em resumo, com as sugestões acima, acredito que o futebol brasileiro se beneficiaria de: (1) jogadores mais bem entrosados; (2) times mais bem geridos e com mais chances de criar e manter bons jogadores; (3) atletas mais profissionais e equilibrados, além de talentosos; (4) mentalidade vencedora; e, conseqüentemente, (5) um futebol novamente campeão do mundo e dominante.

Naturalmente, estarei torcendo fanaticamente para o Brasil ganhar a Copa. Isso pode acontecer principalmente se vencermos os primeiros jogos, pois a confiança cresceria e a torcida jogaria junto. Mas mesmo ganhando a Copa não devemos fechar os olhos para as questões acima.

Foto: esportes.r7.com

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Publicado às 2 de junho de 2013 por em ARTE & ENTRETENIMENTO e marcado , , , , , , , , , .

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