O Meio e o Si

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Repensando nosso sistema universitário

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O Brasil pode tirar lições do modelo de ensino das universidades americanas. Nos EUA, durante os primeiros dois anos, independente da carreira que seguirá, o estudante é exposto de forma compulsória a diversas áreas. Por exemplo, mesmo sabendo que estudará engenharia, nos primeiros anos o universitário escolhe aulas de ciências, artes, humanas, idiomas, literatura. Apenas no terceiro ano as aulas da especialização tornam-se maioria e aprofunda-se realmente o tema. Mas qual a vantagem disso?

Primeiro, este modelo permite que o jovem tenha mais tempo e elementos para decidir o que quer. Durante dois anos, tem a oportunidade de explorar diferentes áreas e mudar de idéia sem maiores traumas ou perda de tempo. Isto porque quase qualquer aula é aproveitada no currículo de outra especialização. Pode também fazer matérias na carreira de sua escolha inicial para ver se realmente gosta ou se tinha visão equivocada ou romantizada do tema.

Enquanto isso, no Brasil, aos 17 ou 18 anos já somos forçados a escolher a carreira que seguiremos, o que é um absurdo. O que acaba acontecendo é que os pais tomam a decisão pelos filhos, consciente ou inconscientemente. Em consequência, vemos estudantes cursar um ou dois anos de uma carreira para descobrir que não era aquilo, e depois ter que abandonar o curso e recomeçar outro do zero, às vezes inclusive refazendo o vestibular. Ou pior, acabam seguindo uma carreira com a qual não têm verdadeira afinidade.

Outra vantagem do sistema norte-americano é a cultura geral adquirida, a possibilidade de aprender de tudo um pouco. Os universitários mais que nada aprendem a aprender. Existe aprendizado mais útil? É comum brasileiros vangloriarem-se que os cursos de bacharel de nossas melhores universidades não deixam a desejar em comparação aos melhores do mundo, que nossos graduados saem extremamente bem qualificados para exercerem suas profissões. Verdade. Eu inclusive iria além: um economista ou engenheiro formado pela PUC-Rio ou USP sai da universidade sabendo mais economia e engenharia do que um graduado de Harvard ou Yale. No entanto, os estudantes das boas universidades americanas saem mais preparados para a vida.

Nos EUA, a universidade é vista como o lugar para aquisição de conhecimento, experimentação, ampliação de possibilidades. A expectativa é que a pessoa só irá realmente se especializar no seu campo num mestrado, doutorado, além da experiência profissional, dependendo da área. Prova disso é que carreiras como direito e medicina são estudadas apenas na pós-graduação. O estudante forma-se praticamente no que quiser (embora normalmente escolham-se matérias relacionadas; por exemplo, um candidato a medicina costuma formar-se em biologia; o de direito, em ciências políticas ou filosofia) e depois cursa mais três a cinco anos de pós-graduação.

Uma evidência de como esse sistema é valorizado, é a alocação das pessoas no mercado de trabalho. A realidade é que importa menos o que a pessoa estudou do que onde estudou. Os melhores empregadores querem pessoas criativas, com iniciativa, e que saibam pensar lateralmente. Isso não se aprende ou desenvolve na especialização, mas sim no currículo como um todo. O resto aprende-se “on the job“. Por isso, é comum por exemplo que bancos de investimento e empresas de ponta prefiram contratar um graduado em filosofia ou ciências políticas de uma universidade top, do que um economista ou engenheiro de uma universidade não tão conceituada.

É claro que as universidades brasileiras também possuem as chamadas eletivas e através delas é possível explorar um pouco novas áreas. Entendo também que a realidade do mercado de trabalho no Brasil seja diferente e que para muitos é mais importante sair bem especializado da universidade, dispensando por vezes a necessidade de estudos adicionais, do que com conhecimento geral. Mas mesmo que esse modelo não vire a norma brasileira, seria interessante ao menos que nossas universidades de ponta considerassem essa perspectiva.

Veja também Graças a Darwin!. Imagem: principalspage.com

7 comentários em “Repensando nosso sistema universitário

  1. zeni dos santos gomes
    21 de março de 2014

    Acho 16 ou 17 anos muito inexperiente para escolher uma carreira para o resto de suas vidas….

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  2. Gilda Menasce
    20 de março de 2014

    Sao modelos diferentes para realidades diferentes. Sera que o Brasil pode se dar ao luxo de nao formar profissionais prontos para o mercado de trabalho depois de 5 anos de um bacharelado totalmente gratuito, custeado pelo contribuinte, como no caso das universidades federais e estaduais?

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    • Entrepreneurship Compass
      20 de março de 2014

      Ótimo ponto, Gilda. E eu termino o post falando justamente isso (espero que tenha lido até o final! :-)) Mas por isso digo que talvez esse seja um modelo particular para universidades de ponta apenas… e talvez até apenas as particulares. Abs.

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      • Gilda
        20 de março de 2014

        Andre, evidente que li o artigo ate o final. Varias universidades federais e estaduais sao gratuitas e sao consideradas de ponta, como USP, UFRJ, UFMG, UFPE, e outras. Este e’ o meu ponto.

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      • Entrepreneurship Compass
        20 de março de 2014

        Exato! Por isso eu disse talvez apenas as particulares…

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    • Entrepreneurship Compass
      21 de março de 2014

      Gilda, complementando, repare que não estou sugerindo que adotemos sistema idêntico ao americano, apenas que podemos aprender/tirar lições com ele. Por ex, quem sabe ao invés de 2 anos “genéricos” tenhamos 1 ano. E tbm adotarmos sistema mais flexível, que permita ao estudante mudar de matéria nos 1os dois anos sem ter que fazer necessariamente o vestibular (de acordo com alguns padrões, claro, como notas boas, justificativa etc).

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