A recente troca de mensagens entre Roger Waters e Caetano Veloso expõe a visão limitada do músico inglês quando o tema é Israel e Palestina. Ademais, sua postura é contraproducente e de nada serve para ajudar a situação na região.
Para quem não acompanhou, Waters convocou Caetano e Gilberto Gil a desistirem de seus shows em Tel Aviv. Convidou-os a apoiar o boicote a Israel liderado por ele e outros artistas. Caetano, por sua vez, escreveu uma carta muito lúcida dando seus motivos para não cancelar o show. Em resumo, lembrou que o governo de Israel não representa toda a população, que historicamente Israel já teve apoio de diversos progressistas, que não deixou de tocar nos EUA quando Bush era presidente, e que seu público não merece ser penalizado. Waters replicou e a discussão, pelo menos até o dia de hoje, parece seguir viva.
Embora concorde que as políticas do atual governo de Israel, lideradas por Benjamin Netanyahu, sejam em sua maioria equivocadas, culpar Israel unilateralmente pelos complexos problemas da região é um erro grotesco. Ignora o fato de que durante décadas Israel teve governos de esquerda, que tentaram exaustivamente buscar caminhos para a paz, que grande parcela da população de Israel segue apoiando partidos conciliadores, e inclusive a criação de um estado Palestino. Ignora também todos os outros players envolvidos.
A postura de Waters me faz indagar sobre suas reais motivações. Será que sua “paixão” é realmente ajudar o povo palestino? Se for, por que será que nada diz sobre a condição deplorável que vivem os palestinos em países árabes, como o Egito e a Jordânia, onde sofrem extrema miséria e isolamento? Nem a opressão do Hamas, o papel manipulador do Irã, os erros do Fatah, e os vários outros problemas relacionados ao povo palestino?
Ou sua causa é humanitária? Neste caso, por que não repreender países onde mulheres são oprimidas e homossexuais assassinados, ou minorias étnicas e religiosas são massacradas? Ou quem sabe seu empenho é criticar intervenções militares injustificáveis? Mas então, o que dizer sobre os EUA na guerra do Iraque, ou a Rússia na Ucrânia? Nunca o vi boicotar shows nesses países.
Mas o objetivo deste artigo não é fazer um apanhado histórico sobre quem está certo ou errado no conflito do oriente médio, nem tentar entender o que passa na cabeça de Waters. É simplesmente expor a injustiça e falta de eficiência desse tipo de atitude. Boicotar os cidadãos israelenses, principalmente na área das artes, cujo público costuma ser especialmente progressista, significa punir quem não tem nada a ver com a questão. Ademais, trata-se de uma hostilidade que apenas gera mais divisão, ressentimento e animosidade.
Como os brasileiros se sentiriam, por exemplo, se estrelas internacionais começassem a boicotar o Brasil em função de nossas injustiças sociais, tais como violência policial contra os pobres em nossas comunidades, tratamento dado aos índios, ou condições desumanas de nossas prisões? Todo país tem seus esqueletos. Portanto, o caminho mais coerente e eficiente deve ser o diálogo e ações produtivas.
Minha dica para Roger Waters, caso realmente queira ajudar a causa palestina, seria, ao invés de usar sua popularidade para ser mais uma figura polarizadora, promover iniciativas agregadoras e positivas. Por exemplo:
Roger Waters faria muito mais por palestinos e israelenses se focasse seus esforços em ações conciliadoras. Enquanto isso, Caetano e Gil estão certíssimos em seguir em frente com seus shows.
PAZ.
Imagem: montagem do autor (fotos: Google image).
Parabéns pelo blog! Quando puder, faz uma visita lá no meu? http://www.juliescreveu.com.br/
Obrigada!
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Obrigado. Curti o seu também. Volte sempre!
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Ainda bem que li seu texto, e refleti melhor, mudando meu conceito anterior…as vezes achamos que estamos totalmente certos, por gostar de um músico (Roger) …apesar de gostar tb. Do Caetano…como se o gostar fosse suficiente para tomar partido…me senti manipulada e inocente…mas concordo contigo, independente de qualquer coisa…a arte precisa ser prevalecida…e o que pode e deve ser acrescentado a ela que pode contribuir como vc referiu…obrigada pelos esclarecimentos .
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Cara Cida, me alegro muito que tenha gostado do texto e que ele a tenha feito repensar algumas questões. É sempre bom quando um texto nos faz rever nossas posições. Volte sempre!
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André, texto irretocável, pela clareza e simplicidade com que aborda a questão do boicote sugerido ao Caetano pelo Roger Waters. Alguns formadores de opinião, como ele parece se julgar, deveriam ter uma visão menos tacanha dos problemas do Oriente Médio, mas optam, como ele, por simplificar tudo, ao invés de estudar a matéria, antes de se pronunciar da forma como fez. Admirável a atitude do Caetano.
É preciso estar atento a organizações voltadas para o boicote a Israel. Aguardo mais matérias suas a respeito do tema. Parabéns!
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Obrigado! Volte sempre!
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Penso que enquanto o povo de Israel majoritária mente apoiar a ignomínia da ocupação não sentir no próprio bolso o custo das ações da extrema direita que monopoliza o discurso e a sua transformação em atos espúrios, tudo seguirá como d’antes no quartel de Abrantes.
Pergunto: Apoiar um boicote contra Israel dói mais ou dói menos do que deixar que o statu-quo se eternize?…
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Caro Bruno,
A questão é que boicote não funciona e penaliza quem não merece. Ademais, pq boicotar Israel apenas por seus erros? Ainda mais numa questão tão complexa e de difícil diagnóstico. Como desenvolvo no artigo, vários países comentem erros graves com suas populações, minorias etc, e ninguém fala em boicote. Inclusive o nosso Brasil.
Saudações.
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Excelente texto, André!! Poderia discorrer sobre a superficialidade do entendimento do músico quanto à questão palestino-israelense, mas vc colocou tudo aí.
Acho que as pessoas sobre-valorizam as opiniões de artistas quanto a temas que fogem totalmente da área pela qual são reconhecidas, como a Patricia Pillar falando sobre transposição do São Francisco. Daqui a pouco o Neymar discorrerá sobre a importância do ajuste fiscal…
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Sim, embora todos tenham direito a uma opinião. Abração!
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Assino embaixo André, Grande abraço.
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Obrigado, Léo. Volte sempre! Abs.
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