O Meio e o Si

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Sorria, o mundo é belo

peste bubonica mundo melhor

Com todas as notícias terríveis às quais somos expostos diariamente – crise de refugiados, guerras civis, pobreza, violência urbana, etc. – nossa tendência é achar que estamos à beira do abismo. Vivemos um dos momentos mais sombrios na história da humanidade. Essa percepção, no entanto, não podia ser mais distante da realidade. Sob praticamente qualquer ótica, apesar de tudo, vivemos hoje num mundo melhor do que em qualquer época no passado.

A expectativa de vida global vem crescendo invariavelmente desde meados do século XIX. Em 1850, vivia-se em média 30 anos; em 1950, 47 anos; em 2012, 70. A tendência é a mesma se avaliada por continente, como pode ser visto aqui. Com relação à saúde de forma mais ampla, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, as mortes por epidemias e doenças vêm caindo constantemente no último século. Como lembra Angus Deaton, economista especializado em saúde da universidade de Princeton, “não existe um país no mundo sequer onde mortalidade infantil não seja menor do que era em 1950.” Enfermidades que matavam milhões no passado, como a peste bubônica (imagem acima), encontram-se extintas ou sob controle. As mais novas, da AIDS ao Ebola, são controladas com rapidez e menos dano.

Economicamente, cada vez menos pessoas vivem na pobreza (definida pela linha de $1/dia, levando em conta a inflação). Desde o início do século XIX, quando começa a série histórica, a pobreza vem diminuindo constantemente. Em 1820, 95% (!) da população mundial era pobre. Em 1929, eram 75% de pobres no mundo; em 2010, 14%. Por sua vez, dentro dos países pobres, em 1981, 63% da população vivia com menos de $1/dia; em 2010 eram 44%. Com relação ao PIB per capita mundial, ele vem crescendo desde o inicio da série há cerca de 500 anos e de forma exponencial de meados do século XIX para cá.

Na educação, a série histórica mostra um mundo onde, em 1820, apenas cerca de 12% da população mundial era alfabetizada. Em 2010, a fatia era de 83%. No Brasil, saímos de 35% de alfabetização em 1900, para 42% em 1940, e 85% em 2010. Trata-se da democratização do acesso à informação. Ademais, ler e escrever geram impactos positivos na qualidade de vida em vários níveis, tais como inclusão social e econômica, autoestima, produtividade, sociabilidade, entre outros.

Em termos de direitos humanos, evoluímos enormemente. Há séculos atrás, barbaridades como a escravidão eram lugar comum. Um povo sentia-se no direito de se apossar de outro, usando os homens de mão-de-obra, aproveitando-se das mulheres etc. Negros, índios, judeus, entre outros, foram escravos durante décadas ou mesmo séculos. Um escravo no século XIX vivia cerca de 25 anos apenas. Hoje, apesar da escravidão ainda ocorrer, acontece numa escala bastante menor e provoca reação no mundo inteiro. A qualidade de vida também tornou-se melhor que no passado (recente e distante) para mulheres, homossexuais e minorias em geral, agora menos sujeitos à discriminação na maioria dos países.

No campo das guerras e violência, embora possa não parecer, nunca tivemos tão poucos conflitos bélicos e mortes violentas em nossa história. Comparado aos últimos séculos, vivemos em relativa harmonia. Se voltarmos mais no tempo, o panorama é pior ainda. Muitas das guerras de milênios atrás matavam 50% ou mais da população de uma cidade ou mesmo país, apesar das tecnologias rudimentares. Não haviam regras de conduta, rendição, ou órgãos internacionais que amenizassem as atrocidades (ONU, Cruz Vermelha, ONGs, mídia). Nenhum dos conflitos atuais se compara às guerras de Gengis Khan, à Inquisição, às Cruzadas, ao Califado Otomano. Alguns desses eventos representaram décadas, até séculos, de pura matança. As últimas tragédias de grandeza comparável foram as guerras mundiais do século XX.

Em contraste com poucas décadas atrás, grande parte do mundo usufrui da democracia. Ao longo da história, em um momento ou outro, quase todas as nações foram governadas por déspotas (reis, imperadores, conquistadores, sultões, ditadores), a maioria dos quais sanguinários e opressores. O conceito de democracia enraizou-se de forma inédita na consciência da comunidade internacional, tornando mais difícil para os regimes autoritários se sustentarem num contexto onde países com liberdade de opinião prevalece.

Obviamente, isso tudo não quer dizer que o mundo esteja uma maravilha. O sofrimento, a pobreza, as guerras e injustiças ainda são lugar comum. Temos também os riscos provenientes do aquecimento global e de conflitos nucleares. Ademais, com a mídia e o acesso à informação em tempo real, tanto os problemas locais quanto os do outro lado do mundo estão presentes em nosso dia-a-dia, sendo impossível ignora-los. Mas é importante reconhecermos os progressos, inclusive para que nos lembrem que é possível seguir melhorando.

Vejam também O botão que apertaríamos. Imagem: whenintime.com.

2 comentários em “Sorria, o mundo é belo

  1. Jose Augusto Carvalho
    4 de setembro de 2015

    Muito bom, André! Isso s

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    • omeioeosi
      4 de setembro de 2015

      Obrigado, Mestre Gugu! Apareça com mais frequência! Abraços.

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