Sou otimista com relação ao futuro de Cuba. Visitei o país há cerca de 10 anos, quando tive a oportunidade de viajar pelo interior, me hospedar em casas de família, conhecer um pouco do país além da Havana “para inglês ver”. Apesar da pobreza, pude constatar elementos importantes que, se bem trabalhados, podem alavancar o crescimento sustentado – e sustentável – da ilha, fazendo-a finalmente sair da década de 60.
Meu otimismo se baseia em pelo menos quatro fatores. Primeiro, Cuba é um país com população relativamente bem educada e bem atendida pela saúde pública. Seu índice de desenvolvimento humano (IDH) é o 44º maior do mundo, um ótimo desempenho comparado ao seu poder econômico, onde figura como 86º país em termos de PIB per capita (como referência, o Brasil figura como 79º em IDH e 60º em PIB per capita, mostrando situação oposta). Pessoas bem instruídas e saudáveis são insumos essenciais para o desenvolvimento de qualquer país. Conforme detalho em outro artigo, quando capital humano (ou talento) é alimentado de recursos, dentro de um sistema com instituições minimamente eficientes, o país prospera.
Segundo, não faltarão tais recursos para financiar o crescimento da economia cubana. Os mesmos poderão vir, por um lado, da poderosa comunidade de exilados cubanos de Miami que, conforme as reformas se aprofundem e os Castros deixem o poder, possivelmente investirão na ilha com força. Ao mesmo tempo, o setor privado internacional verá com brilho nos olhos as oportunidades de negócios que aflorarão nesse berço virgem do capitalismo, e ainda por cima vizinho do enorme mercado norte-americano. Ademais, organizações internacionais de fomento, como o Banco Mundial, mais cedo ou mais tarde, dependendo da vontade de Cuba em tornar-se cliente, entrarão na jogada. Inclusive, mais do que dinheiro, essas organizações podem contribuir no aprimoramento das instituições locais e arcabouço jurídico e regulatório, através de cooperação técnica e iniciativas de transferência de tecnologia e conhecimento.
Terceiro, o tamanho do país, embora fator limitante em certos aspectos, torna-se aliado nessa situação. Com 11 milhões de habitantes, PIB de apenas cerca de 200 bilhões de dólares, e estoque de capital reduzido, cada dólar investido no país, se bem aplicado, tem o potencial de gerar retorno exponencial. Portanto, se a abertura acontecer de forma bem planejada, é possível vislumbrar cenário onde os serviços públicos de saúde e educação se fortaleçam ainda mais, investimentos em infraestrutura ajudem a pavimentar o crescimento de longo prazo, e a iniciativa privada se desenvolva gerando emprego, inovação, e progresso sustentável.
Finalmente, a inserção do país no mercado global se dará no momento onde o mundo se encontra mais consciente com relação ao meio ambiente, sustentabilidade, responsabilidade social, direitos humanos e outras questões (parcialmente) negligenciadas na maior parte do século XX. Ou seja, assim como tendemos a achar que as crianças hoje são mais espertas por se beneficiarem da tecnologia e de maior acesso à informação, Cuba de certa forma estará renascendo para o capitalismo em um cenário muito melhor do que o vivido na época pré-revolução. Ao invés de ser o “cassino dos EUA”, como no período liderado pelo ditador Batista, acredito que Cuba tenha hoje a oportunidade de gradualmente adotar um capitalismo sustentável, democrático e igualitário.
Naturalmente, existem vários desafios no processo. Por exemplo, se o fluxo de capitais for muito acelerado e descontrolado, a ilha poderá rapidamente se tornar uma bolha imobiliária e de ativos em geral. Um crescimento desenfreado também pode gerar desigualdade e concentração de renda. Por sinal, não seria nada mal que Cuba mantivesse ao menos um pouco do seu espírito socialista, desenvolvendo forte sistema de seguridade social. Dessa forma, quem sabe pode em longo prazo se tornar uma espécie de “Dinamarca das Américas” – ou no mínimo um Uruguai.
Para que a transição seja bem sucedida, basta que a entrada de Cuba no mundo capitalista não seja tão desajeitada quanto a infame tentativa de Che Guevara jogar golfe, acima.
Imagem: Google images (desconhecido).
AndrezinhoDasOlinda
Tenho 54 anos. Com o pouco que sei do sistema capitalista na maioria dos países no mundo e, principalmente no Brasil, fico receoso com o teu otimismo. tudo bem, não posso mudar o fluxo da História, não sou o superhomem, mas será que mesmo que fará tanto bem assim a Cuba. A maioria dos capitalistas são predadores cruéis!!!!!
Um abraço!!!
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Olá,
Não concordo nem um pouco com essa utopia liberal visionária que você prevê.
As condições cubanas e o potencial humano narradas no texto não são de hoje, são de muitas décadas. No entanto, por que agora todo mundo passou a prestar atenção na ilha? Porque o fim do embargo pode produzir alguma abertura, controlada, da economia, mas nada que afete o sistema político cubano.
Seu texto dá a entender que é apenas uma questão de tempo até que os Castro desapareçam, para que Cuba se torne o mais novo baluarte do liberalismo capitalista caribenho.
Mas eu tenho uma má notícia pra você: a filha do atual presidente, Mariela Castro, provavelmente irá suceder o pai no governo. E ela tem dito reiteradas vezes que não vai haver nenhuma revolução capitalista na ilha.
A não ser que haja um golpe de Estado patrocinado pela CIA, mas aí é outra história….
Grande abraço.
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Caro Almir, obrigado pelo comentário. Acredito que a abertura agora seja irreversível, ainda mais hoje, com acesso à internet, maior mobilidade de pessoas, idéias etc. Nem a filha de Castro segura. Um abraço!
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