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Democracia Americana na Encruzilhada: EUA ou Trumpistão

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Os EUA passam por momento crítico em sua história. Não economizemos palavras: Donald Trump está empenhado em tornar-se o primeiro déspota norte-americano. Seus constantes ataques à imprensa, narcisismo exacerbado, nomeação de membros da família a altos cargos de governo, uso da mentira como ferramenta de alienação, alavancagem da presidência para favorecer negócios pessoais, atitudes agressivas a opositores, e simpatia por ditadores como Vladimir Putin e Kim Jong Un não deixam dúvidas de suas intenções.

O envolvimento de Trump com a Rússia, pivô de toda a trama que o elegeu à presidência, é também óbvio e documentado, tanto nos negócios quanto na política. Desde a época dos seus cassinos fracassados em Atlantic City na década de 1980, até seu empenho em levar o concurso de Miss Universo à Rússia em 2013, são muitas as evidências da sua relação com o governo russo e a chamada “máfia russa”. Sua admiração (gratidão?) por Putin é auto-proclamada. Diversas vezes disse, em entrevistas e redes sociais, o apreciar por sua liderança e firmeza. Por exemplo, em 27 de julho de 2013, postou no Twitter, “Vocês acham que Putin irá à Miss Universo em Moscou? – se for, quem sabe se tornará meu novo melhor amigo?”.

Testemunhas críveis afirmam que o plano de levar Trump à presidência foi orquestrado em 2013, quando teria se reunido com o grupo dos oligarcas mais riscos da Rússia. Na ocasião, o grupo teria proposto ajuda financeira aos seus negócios falidos e apoio à sua eventual candidatura; em troca, teriam exigido que Trump beneficiasse seus negócios e ajudasse a Rússia a se estabelecer como principal potência mundial, enfraquecendo a Europa, China e o próprio EUA. Em outras palavras: Trump teria “vendido” os EUA para se beneficiar.

Quem acha essa teoria demasiado conspiratória, talvez não tenha visto o comportamento de Trump em Helsinki, Finlândia, em julho passado, quando participou de coletiva de imprensa ao lado de Putin. Tudo nesse evento constrangedor, da leitura corporal de ambos ao que foi dito, tende a corroborar a teoria. Apesar da unanimidade por parte da inteligência americana de que hackers russos influenciaram as eleições americanas de 2016, beneficiando a candidatura Trump, o presidente tomou o lado de Putin e disse acreditar em sua palavra de que não houve interferência. Enquanto isso, Putin falava pouco e mantinha sorriso sarcástico e confiante. Outras evidências incluem os constantes conflitos de Trump com líderes de países tradicionalmente aliados dos EUA, como Angela Merkel da Alemanha e Justin Trudeau do Canadá, e suas críticas à OTAN e à ONU. Semana passada, foi revelado que em 2017 o FBI estava tão preocupado com as relações de Trump com a Rússia, que iniciou uma investigação secreta – sem precedentes na história dos EUA! – sobre um presidente em exercício.

Existe outro possível fator agravante que colocaria Trump ainda mais firmemente em mãos russas. Pessoas próximas ao presidente, incluindo o ex-diretor do FBI James Comey, sugerem existir gravações de vídeo constrangedoras de Trump em orgias com prostitutas russas. Aparentemente, a prática de tentar políticos e executivos estrangeiros com prostitutas e os filmar para eventuais chantagens é comum na Rússia.

No entanto, o governo Trump parece estar chegando numa encruzilhada. As investigações do conselheiro independente Robert Muller parecem estar fechando o cerco em torno da gangue de Trump. Dezenas de pessoas, russos e americanos, foram incriminadas, incluindo o chefe de sua campanha, Paul Manafort, e seus assessores de segurança nacional e política internacional. Ademais, alguns de seus colaboradores mais próximos, como o advogado pessoal Michael Cohen e o CFO das organizações Trump, Allen Weissenberg, se entregaram às autoridades e estão diminuindo suas penas em troca de informações valiosas sobre os negócios e a campanha de Trump. Esta semana Cohen confessou que Trump o instruiu a mentir ao Congresso americano sobre negociações para a construção de uma Trump Tower em Moscou – ato que, se comprovado, pode ser passivo de impeachment.

Essa movimentação está mexendo com os alicerces do país e dificilmente mudanças incrementais apenas ocorrerão. Mais provavelmente, os EUA poderão acabar em um de dois lugares extremos do espectro: (1) Trump sofrendo impeachment ou derrota eleitoral em dois anos e eventualmente sendo condenado por um ou mais de seus crimes; ou (2) as instituições americanas não conseguindo provar sua culpa ou implementar as devidas punições e Trump sendo reeleito e se estabelecendo no poder, seja por mais um mandato ou, através de alguma manipulação politico-constitucional, mais tempo.

No primeiro cenário, otimista, os EUA aprendem a lição com esta traumática presidência e reforçam sua constituição e leis de forma a evitar que algo semelhante aconteça no futuro. Seria uma espécie de movimento de never again, onde as instituições são reforçadas e o país se torna mais democrático, eficiente e resiliente. No segundo cenário, sombrio, Trump consegue dar um grande middle finger para o establishment, se safa das acusações, e dá o seu jeito para se estabelecer no poder. Torna-se uma espécie de “rei louco” do Trumpistão, mais um país sobre influência russa – desfecho infame para o período pós-Guerra Fria. Uma era sinistra se estabeleceria na ordem mundial. Os próximos meses dirão.

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