O Meio e o Si

Seu blog de variedades, do trivial ao existencial.

Aproximados pela distância

globe_hands harborpedsAlgumas das melhores amizades que fiz na vida foram com outros expatriados, morando no exterior. Independente do país de origem, estrangeiros compartilham as mesmas vulnerabilidades e apetite por novidades, que por sua vez resultam em abertura singular a novas pessoas e experiências. Longe da família e dos amigos de longa data, se entregam aos recentes relacionamentos de forma mais intensa do que fariam em seus países de origem, em circunstâncias normais.

Vivi essa realidade nos EUA, Espanha, Inglaterra e Canadá. Alguns de meus amigos mais queridos inclusive são pessoas com as quais convivi apenas um ou dois anos, às vezes menos. Foram períodos de intensidade única. Colegas de mestrado, com quem passava horas a fio juntos – frequentando aulas de manhã, estudando à tarde, saindo à noite – dia após dia, durante meses. Companheiros de apartamento ou dormitório, com quem convivi diariamente e em certos períodos quase exclusivamente. Ou simplesmente pessoas que estavam no mesmo local ou situação.

Enquanto em nosso país é natural dividirmos o tempo entre diversos familiares e amigos, em terra estrangeira tendemos a nos apegar a um ou poucos. Trata-se de uma espécie de “curso intensivo” em amizade e coexistência, onde, por exemplo, em pouco tempo a relação alcança um nível no qual se compartilha assuntos que até pouco eram exclusividade das pessoas mais próximas.

O “exílio” é fator singular de união. Estamos todos diante de um novo idioma, uma nova cidade, uma nova cultura. Juntos superamos obstáculos práticos (como aprender a burocracia local) e emocionais (como a saudade), aprendemos a lidar com o novo clima, descobrimos os melhores bares e cinemas, exploramos ruas e bairros. Dividimos alegrias e frustrações que ninguém mais pode entender; afinal, naquele momento e naquela realidade, estamos apenas nós. Tornamo-nos ao mesmo tempo amigos e família; mentores e pupilos; cúmplices e confidentes.

Até hoje tenho amigos de países como Cabo Verde, Argentina, México, Inglaterra, Holanda, Ucrânia, Líbano, Bulgária, entre outros lugares. Além claro de brasileiros que conheci no exterior. Com alguns mantenho laço forte; outros acompanho minimamente pelas redes sociais; uns não tenho notícias há muitos anos. De qualquer maneira, sei que o carinho e a amizade persistem e são mútuos e que, precisando, posso contar com eles e vice-versa.

A distância torna a vida do expatriado difícil em muitos aspectos. Mas o poder de união que ela exerce entre os que estão do mesmo lado é digno de ser celebrado.

Ainda sobre o tema “expatriados”, leia Românticos, Desertores e CamaleõesImagem: Harborpeds

4 comentários em “Aproximados pela distância

  1. Pingback: Desabafo de uma carioca em Toronto | O Meio e o Si

  2. Camila
    25 de janeiro de 2014

    Andre adorei esse texto tambem. Eu tambem tenho grandes amigos com quem na verdade convivi pouco, mas impressionante como a amizade continua firme. Se eu ler mais um texto bom desses, voce vai virar meu guru oficial para assuntos expatriados 😉 beijos, Camila – ps hoje seu texto sai nos links do blog.

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  3. Pingback: Românticos, desertores e camaleões | O Meio e o Si

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Publicado às 19 de janeiro de 2014 por em FILOSOFIA & INDIVÍDUO, SOCIEDADE & POLÍTICA e marcado , , , , , .

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