O voto com os pés e a fuga de talentos

Nunca antes na história deste país viu-se tanta gente querendo deixar o Brasil. A situação política e econômica chegou num ponto onde, quem pode, está optando por “votar com os pés” e buscar a vida no exterior. Esse brain drain, ou fuga de talentos, além de ruim para o futuro do país, é retrato triste da nossa realidade.

Se engana quem acha que Miami está se enchendo apenas de brasileiros milionários e neuróticos. Tenho falado com diversos amigos e conhecidos, de diferentes correntes políticas e profissões, e o pessimismo é generalizado. Conversei com médicos, empreendedores, jornalistas, economistas, administradores, designers. Gente que votou no PSDB, gente que votou no PT, gente que diz que é tudo a mesma coisa. Denominador comum: a conjuntura atual não se sustenta. A ineficiência, a roubalheira e as mentiras chegaram no limite.

O último discurso da presidente Dilma à nação resume bem o status quo. Ficou claro que o Brasil está sendo governado por gente que não respeita minimamente a inteligência dos seus cidadãos. Em sua retórica delirante, Dilma atribui nossos problemas sempre a fatores exógenos. Nossas debilidades de infraestrutura, como falta de água e energia, são apenas frutos da ação da natureza, não da falta de investimento e planejamento. Nossas fraquezas econômicas são consequência da crise internacional, apesar de que seu pico tenha passado há anos e que a maioria do mundo já tenha se sacudido e olhado para a frente. Nossos terríveis casos de corrupção institucionalizada são uma questão que está sendo tratada “exemplarmente”, não uma doença endêmica que vem de dentro do próprio governo e ganhou proporções desastrosas.

Quem tem condições de enxergar que “o rei está nu” sente-se não só ofendido, mas frustrado, pois vê que nem seu voto é suficiente para mudar a situação. Está ainda recuperando-se da ressaca da última eleição. Pior, ao criticar o governo ineficiente e corrupto, tem ainda que escutar acusações de ser “elitista” ou até “golpista”.

No mundo globalizado de hoje, onde países desenvolvidos como Canadá e Austrália abrem as portas para profissionais capacitados independente da nacionalidade, não é de se espantar que tanta gente boa esteja buscando um futuro para seus filhos em outras terras. A história mostra que quando governos perdem o respeito pela população, quem pode, vota com os pés. Fica para trás um país ainda mais carente de empreendedores, profissionais de ponta, e pessoas com visão questionadora e pluralista.

Os noticiários com frequência discutem o problema da fuga de capitais e seu impacto sobre a economia. Quando a questão torna-se a fuga de capital humano, entretanto, o problema muda de patamar.

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