O Meio e o Si

Seu blog de variedades, do trivial ao existencial.

De volta ao presente: a viagem da meditação secular

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Caro leitor, você não vive no presente. Não me refiro a uma máquina do tempo, à Matriz, nem estou alucinando. Aceno à nossa incapacidade de experimentar verdadeiramente cada momento, conforme eles ocorrem. Acredite se quiser, esta é uma das fontes menos comentadas de ansiedade, falta de produtividade e infelicidade em geral.

Da próxima vez que estiver caminhando na rua, jantando ou escrevendo um memorando para o trabalho, preste atenção no que está ocorrendo dentro da sua cabeça. Escute a voz interior que fala com você. Não se preocupe, você não está louco. Por exemplo, enquanto digito este texto, minha voz interior constantemente me distrai da função, trazendo à tona questões aleatórias, como “não devia ter comido tanto no jantar”, “tinha que passar mais tempo jogando bola com meu filho” e “preciso terminar aquele trabalho antes do almoço amanhã”.

Questões futuras e passadas estão constantemente nos perturbando, disputando nossa atenção e inibindo nossa habilidade de desfrutar o presente de forma integral. Isto é particularmente preocupante porque tendemos a remoer pensamentos negativos mais que os positivos. Consequentemente, essa distração nos impede de experimentar plenamente nossa consciência, assim como estar verdadeiramente relaxado e focado no momento. Conscientemente ou não, para a maioria das pessoas isso se torna uma fonte de estresse.

É verdade que todos temos nossos hobbies e vemos neles uma forma de “limpar a mente”. No entanto, ir ao cinema, fazer esporte, pintar um quadro ou ler um romance, por mais que sejam hábitos saudáveis e desejáveis, são basicamente tapa-buracos. Calam a voz dentro da cabeça por algum tempo, enquanto você está praticando a atividade. Uma vez de volta à rotina, a batalha recomeça.

A meditação é provavelmente a melhor ferramenta para nos a ajudar a domar nossos pensamentos. E, embora seja praticada em certos contextos religiosos, não tem nada de essencialmente religioso ou metafísico. Pode ser um hábito secular e benéfico, adicionado ao dia-a-dia, assim como a alimentação saudável e a prática de exercícios.

Experimentei a meditação há muitos anos, por mera curiosidade, e confesso não praticar nem de perto com a frequência que gostaria. No entanto, mesmo a prática errática aumentou minha capacidade de controlar aquela voz de vez em quando. A propósito, não existe um tipo de meditação que seja “melhor” que outro. Pelo que pesquisei, em última instância todas as formas da prática são parecidas em termos de resultado. O que importa é que, tomar 20 minutos por dia que seja, três ou quatro vezes na semana, para romper com a rotina, escutar sua respiração, e focar no presente, traz benefícios além do que um leigo possa imaginar.

Aprender a regular o fluxo de pensamentos (em sua maioria involutários) na cabeça dá mais controle e liberdade. Nos permite curtir um domingo na praia sem sermos constantemente lembrados (por nós próprios!) que no dia seguinte temos aquela apresentação estressante no trabalho. Ter a mente mais limpa e clara nos ajuda a colocar as coisas em perspectiva, a desfrutar o momento, a preocupar menos. Ademais, vários estudos científicos mostram que pessoas que praticam meditação aguçam a capacidade de concentrar, são mais produtivas no trabalho, e inclusive experimentam melhoras na saúde física, como menos chances de ataques cardíacos e fortalecimento do sistema imunológico.

Na minha experiência limitada, a prática me ajudou a navegar melhor pela pressão dos estudos de pós-graduação, tornar-me uma pessoa mais calma, e lidar melhor com momentos de estresse. Também me ajudou a administrar melhor o tempo. Por exemplo, após anos de procrastinação, finalmente consegui escrever e publicar meu livro, O Meio e o Si, e começar este blog, enquanto era empreendedor e trabalhava numa start-up.

Caso decida tentar, verá que conseguir separar 20 minutos por dia para meditar é mais difícil do que parece. Requer prática e persistência. Mas não desista! Você seguramente se tornará um pessoa mais feliz – e aqueles ao seu redor também.

Veja também De três em três e Filhos do tempo. Imagem: fonte desconhecida.

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