As manifestações do Passe Livre, apesar de ainda recentes, podem representar o começo de um movimento extremamente importante para o Brasil. Sempre critiquei nós brasileiros por sermos muito acomodados, aguentando passivamente os abusos, incompetências e incoerências de nossos políticos e governantes. Minha expectativa neste momento é que: (1) as manifestações cresçam em tamanho mas diminuam em violência, preferencialmente focando as ações em áreas que maximizem o transtorno para os políticos e governantes e minimizem-no para o cidadão comum, e (2) haja uma liderança esclarecida por trás do movimento, com capacidade para desenvolver uma agenda consistente e clara.
Testemunhei os protestos dos chamados 99 Por Cento, em Nova Iorque e Washington, no ano passado. Caminhar entre os manifestantes foi uma experiência embriagante, que transmitia a sensação utópica de que tudo é possível quando a massa insatisfeita se une e vai às ruas. Ao mesmo tempo, enquanto escutava arrepiado os gritos de protesto, me perguntava: O que exatamente quer esse pessoal? Aonde pensam que chegarão apenas gritando slogans lugar-comum como “abaixo a Wall Street” e “queremos igualdade”?
Muitos jornalistas e intelectuais apoiaram essa forma de “protesto genérico” e a preferiram vis-à-vis ao protesto específico, tipo “lista de exigências”, por possuir fundo mais ideológico e superior poder contestador. Eu discordo. Considero essencial existir, por trás das manifestações de massa, uma agenda pragmática que defina os passos subsequentes. Isso torna-se especialmente importante quando o fôlego dos manifestantes acaba. Ninguém tem condições de seguir permanentemente nas ruas protestando; chega um momento onde as pessoas precisam retomar suas atividades, ou simplesmente se cansam e o movimento acaba relegado a alguns gatos pingados. O movimento dos 99 Por Cento foi importante mais no sentido romântico que qualquer outro. Após todos os esforços, em termos práticos nada mudou, a não ser o fato de a classe dominante haver constatado que os descontentes possuem algum poder de mobilização.
Espero que o movimento Passe Livre cresça tanto nas ruas quanto nos bares, universidades, ONGs, empresas e mídia; que celebridades nos campos da cultura, do esporte e entretenimento unam-se a empresários influentes e aos poucos políticos de boa índole, consolidando um processo bem articulado. Sou a favor sim de usar a atenção que o Brasil recebe com a Copa das Confederações – e se necessário a Copa do Mundo – como vitrine de manifestação. Acho inclusive bastante representativo pois estaremos reforçando que o futebol não é mais o ópio do povo brasileiro.
No entanto, além de cartazes genéricos contra a corrupção, a desigualdade e a falta de investimentos em educação, saúde e infraestrutura, precisamos levantar um “cartaz-manifesto” com lista clara e detalhada das mudanças econômicas, institucionais e políticas que esperamos. O ideal seria que esse manifesto fosse escrito enquanto os jovens ativistas ainda tenham fôlego para liderar a comissão de frente.
Foto: Flickr.com
Concordo com você do princípio ao fim. Argumento irretocável!
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Obrigado Saint-Clair. Vamos ver no que vai dar…
Um abraço!
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