O Meio e o Si

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Inflação e Custo Brasil

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Há vários anos escrevi um artigo sobre a tendência inflacionária sistêmica no Brasil. Argumentava que o principal motivo pelo qual não conseguíamos domar esse mal, principalmente após a conquista da responsabilidade fiscal, era o Custo BrasilOu seja, o problema era fundamentalmente estrutural e de oferta. No entanto, fui convencido por um economista respeitado a não publicar o artigo pois eu não era “especialista em política monetária” e esse “debate já estava superado”. Na ocasião, ainda muito jovem, me intimidei e segui o conselho. No entanto, não só acredito que o problema persiste, mas com frequência vejo renomados especialistas em mercados emergentes compartilhando essa visão.

O Brasil vem travando batalhas para manter o câmbio competitivo, a inflação sob controle e a economia minimamente estimulada em boa parte através da política de adequação dos juros. Em tempos de alta pressão inflacionária, aumenta-se a taxa Selic. Isso, por sua vez, estimula a entrada de divisas estrangeiras em busca de retornos em renda fixa, o que fortalece o câmbio. Ao mesmo tempo, as exportações tornam-se menos competitivas e o custo de capital encarece, asfixiando o crescimento da economia. Por outro lado, quando a inflação encontra-se aparentemente controlada, diminuem-se os juros, os investimentos produtivos aumentam, o câmbio se ajusta e a demanda cresce. Essa combinação seria potencialmente impulsionadora de um círculo virtuoso de crescimento. No entanto, problemas estruturais fazem com que pequenos incrementos de demanda tornem-se inflacionários, jogando o país de volta ao primeiro cenário. Isto porque nossa oferta não tem capacidade de acompanhar a demanda. Vamos a dois exemplos.

Um produtor agrícola duplica sua produção para atender ao novo aumento de demanda. Na hora de escoar a produção, além de toda a morosidade burocrática habitual, seus distribuidores sofrem com a falta de opção ferroviária e estradas em péssimas condições e congestionadas, onde caminhões demoram o dobro do tempo devido para chegar até o porto. Chegando ao porto, enfrentam filas de mais dois ou três dias até conseguirem embarcar a produção e, àquela altura, parte da mercadoria estragou, prazos foram perdidos, pagou-se hora extra aos motoristas, e outros custos desnecessários foram incorridos. Esta é a realidade enfrentada recorrentemente no setor de agronegócios, principalmente em tempos de demanda aquecida. E em situações como essa, o aumento do custo é repassado adiante na cadeia de oferta até o consumidor final.

Problemas similares ocorrem também em setores de maior valor agregado. Uma empresa de tecnologia da informação (TI), para atender aos pedidos crescentes de seus clientes, precisa necessariamente contar com insumos como mão de obra qualificada e a custo competitivo, e acesso à banda larga de qualidade. Precisa também de vôos que operem no horário e transporte público eficiente, de modo que seus funcionários possam visitar clientes e dar suporte com a velocidade e eficiência requeridas. Sem esses e outros elementos essenciais para o aumento da produtividade e oferta de serviços competitivos, não é possível suprir a demanda. Portanto os serviços, além de ruins, tornam-se também mais caros.

O Brasil é um dos poucos países emergentes onde taxas de crescimento de apenas 3-4% puxam consigo pressões inflacionárias. O motivo é que a infra-estrutura, as instituições e os insumos operam no limite. A inflação brasileira não é apenas um tema para os “especialistas em política monetária”. O cerne do problema são as questões estruturais, que passam despercebidas pelo radar dos modelos monetários ortodoxos. Quando o Custo Brasil for de fato reduzido, o país poderá pensar em crescimento sustentável e, então, caberá à política monetária seu principal e desejável papel, o de manutenção.

Veja também Brasil no Modelo C.T.I. e Repensando o BNDES.

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Publicado às 3 de outubro de 2013 por em ECONOMIA & NEGÓCIOS e marcado , , , , , .

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