Sou cético e geralmente crítico quando o assunto é religião, apesar de entender seu papel. Tenho bronca particular com o Vaticano, principalmente seu histórico opressor, esbanjador e anacrônico. No entanto, tenho que admitir que Francisco é o melhor que se pode esperar de um papa. Finalmente um pontífice se propõe a seguir de forma mais coerente os ensinamentos de Cristo, ao invés de simplesmente continuar tocando a Igreja como uma instituição política com fins lucrativos.
Sempre me deixou perplexo a forma como a Igreja contradiz os valores pregados por seu inspirador, que incluíam: simplicidade, desapego material, amor ao próximo, igualdade perante Deus. A opulência do Vaticano, descaso com minorias como os homossexuais, machismo, corrupção, envolvimento com estados opressores, encobrimento de casos de pedofilia, entre outras transgressões, fizeram com que qualquer pessoa bem informada, católica ou não, se tornasse crítica da Igreja.
Pois surge um senhor simpático, carismático e de bom senso, e com seu jeito manso começa a se impor. Papa Francisco está aos poucos revendo valores e buscando guinar a Igreja na direção da tolerância, simplicidade e compaixão. Dentre suas posições destacam-se:
É claro que Francisco segue sendo papa e, como tal, existem fronteiras que não pode cruzar – ou simplesmente não está disposto. Uma delas é apoiar o uso de preservativos que, principalmente em regiões como a África, salvariam vidas. Outra é a questão de se opor ao aborto em qualquer circunstância, o que sempre gera polêmica. Especula-se que estaria disposto a rever o celibato – que é uma prática relativamente recente e alguns sugerem servir sobretudo para manter a herança dentro da Igreja – mas por ora mantém o status quo.
No entanto, para bem ou para mal, um papa precisa ter um mínimo de consistência em seu discurso. Seria inocente pensar que mudanças mais radicais do que as atuais pudessem ocorrer de forma rápida dentro de uma instituição tão poderosa e estruturada. Acredito também que sua postura liberal seja parte de uma estratégia de marketing da Igreja que, como no caso de uma empresa mal gerida, tem visto sua clientela diminuir ano após ano. Esse reposicionamento de “branding” já está gerando frutos e espera-se que, com sua simpatia e discurso progressivo, o papa – seu “CEO” – esteja trazendo principalmente os jovens de volta à Igreja. A meu ver, trata-se inclusive do lado menos comemorável disso tudo.
De qualquer maneira, acredito na sinceridade do Papa Francisco assim como nas suas intenções. Enquanto houver Igreja, sem dúvida é melhor que haja alguém como Francisco à sua frente.
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