A luta de Anderson Silva contra Chris Weidman foi um dos acontecimentos mais bizarros e decepcionantes na história recente do esporte brasileiro, principalmente pela crescente popularidade de Anderson e do MMA no país. Muito se especula sobre o assunto. A luta teria sido armada, afinal era feriado do dia da independência dos Estados Unidos, palco perfeito para o surgimento de um novo campeão americano? Haveria questões de apostas por trás do resultado? Anderson resolveu perder para evitar uma super-luta com Jon Jones? Seria armação do UFC para preparar a grande volta do campeão em uma revanche?
Todas as especulações são improváveis. Anderson cometeu sim um grande erro estratégico, que vai além da presunção, inclusive porque é difícil saber o quanto de sua “arrogância” é real ou apenas parte de personagem que encarna no octógono. Ao longo de sua incrível carreira, Spider escolheu algumas vítimas para adotar a estratégia de intimidação e até humilhação, como Demian Maia, Forrest Griffin e Stephan Bonnar. Contra outros lutou com extrema seriedade, como Dan Henderson, Rich Franklin e Chael Sonnen. O critério de escolha para sua postura não é totalmente claro, se é parte da estratégia traçada previamente para cada luta ou decisão baseada na reação do oponente ao longo do combate. Provavelmente o último, pois Anderson tem enorme capacidade de ler seu adversário, encontrar mínima brecha de insegurança, e capitalizar em cima do momento de fraqueza.
No caso contra Weidman, não acho necessariamente que tenha errado ao provocá-lo, afinal a tática até então sempre havia dado certo. Embora minha primeira reação após a luta tenha sido de indignação pela soberba e irresponsabilidade demonstradas, analisando mais friamente, na dose certa, mexer com a cabeça do Weidman para em seguida partir para o ataque era um bom plano. Inclusive, a impressão no fim do primeiro round era a de que novamente funcionaria. O problema é que, entrando no segundo round, exagerou na dose – e muito. Nunca fora tão debochado nem havia deixado a guarda tão baixa por tanto tempo e, pior, diante de um adversário tão perigoso. Deu no que deu. Não fosse esse exagero, tenho confiança de que teria ganhado a luta.
A hegemonia de Anderson era orgulho para os fãs brasileiros, que o têm como uma espécie de “Pelé das artes marciais”. Seu legado sem dúvida permanece intacto, mas pela forma como sua invencibilidade foi quebrada, fica a sensação de que algo irrecuperável se perdeu nesse fim de semana.